sábado, 19 de novembro de 2011

Eu, a TV e seu Irandir


O intelectual e desertor da medicina Apparício Torelli, mais conhecido como Barão de Itararé, emprestou-me essas palavras: a televisão é uma das maravilhas da ciência da humanidade a serviço da imbecilidade humana. É claro que concordei! Quem se presta a conferir as atrações das principais emissoras deste país não encontrará nada melhor que novelas absurdas, programas de auditório tolos e sangue. Nossa persistência em frente a telinha ainda nos premia com algumas partidas de futebol ou um filme minimamente decente.
            
Mas como sinto falta!

A televisão emburrece, contudo pode ser um veículo primoroso de educação. Canais fechados como Discovery, National Geografic, A&E entre outros sempre trazem bons documentários, mostrando passado, presente e tendências futuras nas diferentes áreas de pesquisa. Mas essa é uma realidade que não me pertence mais. Estou isolado no sertão nordestino, convivendo com uma TV que só pega estática e, às vezes, a rede do bispo. Crueldade!

O lado bom? Tempo! Se a TV emburrece, a sua falta me forneceu muito tempo para me dedicar aos livros, dar passeios, conversar com vizinhos e outras...! Plena quarta-feira de cinzas e não faço ideia de quem venceu o carnaval, quem ganhou nos campeonatos estaduais ou o que se passa no mundo! Se por acaso ele acabar, por favor, alguém mande me avisar!

***

Como toda cidade do interior, Guaribas guarda suas figuras excêntricas. Conversando com vizinhos ou tomando relatos pessoalmente, conheci algumas histórias dignas das melhores comédias. O seu Irandir*, por exemplo: magrinho, 62 anos, fumante inveterado de cigarro de palha. Anda sempre em companhia de sua cadela, a qual negou um nome, mas que sempre segue seus passos e faz questão de avisar quando é hora de voltar pra casa.

Conversando com a turma em frente de casa, ele relatou um dos acontecimentos mais bizarros que já ouvi! Com a fala rouca e os olhos trocados (vesgo que só ele!), puxou uma folha de caderno do bolso para confeccionar um novo cigarro enquanto proseava. Contou que na sua juventude, viu todos os seus amigos se casando e decidiu que faria o mesmo. Arranjou uma mocinha e casou de prontidão. Semanas se passaram e resolveu confidenciar para um colega:

            - Olha que não entendi esse gosto de casar de vocês. Casei também e não vi vantagem ainda!
            Seu colega, sobressaltado, indagou:
            - Oh! Oh! Oh! A gente casa é pra "usar" a mulher! Câ tá é atrapalhado! Cê já "usou" a sua?
            Ingênuo, seu Irandir tomou um susto!
            - Vixe Maria! Usar pra quê, tolo?

Neste instante, quase não suportei de tanto rir! Seu Irandir prosseguiu com a história, dizendo que seu colega o ensinou passo-a-passo como devia fazer com sua mulher. Desde então, entendeu finalmente o porquê de casar! Aí sua cadela latiu e os dois tomaram o rumo de casa.

*Nome alterado para preservar a identidade.