sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sabedoria


Desde que tomei um olhar crítico sobre mim mesmo (belas palavras colhidas do filme Meu Nome não é Johnny, 2008, mas de autoria da escritora belga Marguerite Yourcenar), tenho de certa forma tentado trilhar um caminho que me leve a sabedoria! Encontrar o caminho do meio, como fez Sidarta milênios atrás me pareceu uma bela justificativa para esses anos que passamos sobre a superfície deste singelo planeta. Qualquer outra explicação para o sentido de nossa existência foi prontamente negado, a não ser que alguém encontre a pergunta certa cuja resposta é 42. Aí talvez as coisas mudassem, mas até lá, caminho do meio.

A primeira tarefa seria me despojar dos pecados capitais, entre eles o pior, a vaidade, mas deixemos esse assunto para outro texto. O segundo passo seria descobrir o que faz de um homem uma pessoa sábia. Empolgado, corri atrás de conselhos e textos destes ilustres e fiquei assombrado com o que encontrei: silêncio!

Como poderia o mutismo ser a resposta para minhas angústias? Mas está lá e os antigos já sabiam. O silêncio é a virtude que nos evita falar ou ouvir tolices. Bom provérbio para começar! A regra número um seria conservar as palavras bem guardadas. Palavra é flecha lançada. Jamais volta! Ano passado, cometi uma injustiça contra uma colega, comentando levianamente que ela teria fraudado um concurso. Já a conhecia há 6 anos e sabia de antemão que a garota não seria capaz de cometer um ato tão absurdo. O certo é que me arrependo amargamente de tal fato e ainda me envergonho do acontecido.

Muitas vezes se diz melhor calando que falando em demasia. A fofoca nasceu de uma série de acontecimentos que me levaram a julgar precipitadamente. Conversei com 3 ou 4 pessoas sobre isso e esqueci. Meses depois, a garota me procurou e falou sobre o assunto. Um banho de água fria! Quem fala o que quer, ouve o que não quer. Desculpei-me, mas ficarei marcado como tolo. Pessoas não abrem a boca para elogios, mas para depreciação. Por 6 anos comentei como a achava bela, inteligente, legal. Apenas as ofensas chegaram aos seus ouvidos.

Quando falares, cuida para que as palavras sejam melhores que o silêncio; Quantas vezes devemos errar para dar crédito a esses ensinamentos? Ford Prefect (O guia do Mochileiro das Galáxias, Douglas Adams) acreditava que os seres humanos falavam sem parar com a finalidade de evitar ouvir os próprios pensamentos. Tagarelar para esconder o quão vazio os são? Temos dois ouvidos e uma boca. Ouçamos mais e falemos menos.

Outro provérbio interessante fala assim: nascemos com olhos fechados e boca aberta; vivemos tentando consertar este erro da natureza. Acredito que este é um atributo dos sábios. Durante 2 semestres da faculdade, tivemos aula com o Dr. Rino, padre e psiquiatra, o qual persistiu para que compreendêssemos a importância de escutar o que os outros tem a dizer, não importando a origem do discurso: professor, colega ou paciente. De certa forma era um tanto triste notar uma ponta de frustração do mestre ao final de cada aula. Nossa cultura ocidental não tolera o mutismo e se afoga nas próprias palavras! A sabedoria vem de escutar; de falar, vem do arrependimento.

Os espartanos sustentaram uma sociedade que prezava as poucas palavras. Sábios, entediam que elas pouco valiam. Um grama de exemplos vale mais que toneladas de conselhos. Um ato que vale por mil palavras. Não sou partidário do mutismo total. Não teríamos abandonado as savanas, construído ferramentas e viajado ao espaço se negássemos este dom, mas tal habilidade é diariamente massacrada pelas ruas, rádios, TVs e outras mídias. A palavra é prata, o silêncio é ouro. Estamos nos perdendo por pouco!

Pega-se o touro pelos chifres; o homem pelas palavras. O complemento deste provérbio ainda diz: e a mulher pelo elogio; Arrisco a dizer que a vaidade nos leva facilmente a soltar a língua. Humildade é outro atributo dos sábios. Assunto polêmico! Não sou humilde. Não dá maneira que as pessoas acreditam ser humilde. Não diminuo minhas façanhas, não nego o que sei nem escondo sobre falsa simplicidade minhas proezas. Está certo que nunca fiz grande coisa (não é falsa humildade), mas planejo grandes coisas para minha vida. Sonho alto pra não esquecer meus sonhos! Aprendi que cada pessoa tem sua régua para medir seus atributos e ambições. O mais difícil seria entender que minha régua não se aplica a vida dos outros.

Duro caminho para sabedoria! Bem longe mesmo de alcançar. O mais interessante é que não vivemos para sermos apontados como sábios. Enquanto vivos, estamos propensos a cometer todos os erros possíveis. Somos pontuados pela dimensão dos erros! Viva o Ocidente! Temos que morrer para computar a fatura e só assim, sermos categorizados: comum, tolo, sábio. O homem comum fala, o sábio escuta e o tolo discute.

Tão importante quanto ouvir é criticar o que se ouve. Aí não seríamos sábios, mas tolos mudos! Da mesma forma, devemos estar preparados para falar a coisa certa na hora apropriada. Albert Einstein disse que o mundo não estava ameaçado pelas pessoas más, mas por aquelas que se calam diante das maldades. Diga a verdade e saia correndo. Antes acreditava que a sabedoria era uma qualidade da velhice e esta, um bônus da covardia. Antes um covarde vivo que um bravo morto. Os conselhos de anciões, ponderados, sábios das aldeias, não comportavam jovens, sempre tão impulsivos. Mas para ser um ancião, deveria ter sido um grande guerreiro! Os covardes ficavam pelo caminho. Daí então um novo atributo do sábio: bravura!

Os sábios não dizem o que sabem, os tolos não sabem o que dizem. Mas o que realmente sabemos? A verdade é apenas a constatação de um fato. Não acrescenta valor. Silêncio, atenção, prudência, auto-crítica, humildade e bravura são os grandes atributos de um sábio. Também seriam as características ideais para qualquer ser humano, caso fôssemos afeitos a ensinar bons costumes aos nossos filhos.

Termino então assim: Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância. Quando olhamos através das lentes de microscópios ou de telescópios, nos deparamos com universos infinitamente minúsculos ou grandiosos, que superam nossas capacidades de compreensão. O que realmente sabemos? Vivemos colecionando informações apenas para constatar quão ignorantes somos. Daí, um sábio por fim poderia chegar à decepcionante conclusão de que não passa de um tolo!

Regra número um: calado!