Desde que tomei um olhar crítico sobre mim mesmo (belas
palavras colhidas do filme Meu Nome não é
Johnny, 2008, mas de autoria da escritora belga Marguerite Yourcenar),
tenho de certa forma tentado trilhar um caminho que me leve a sabedoria!
Encontrar o caminho do meio, como fez Sidarta milênios atrás me pareceu uma
bela justificativa para esses anos que passamos sobre a superfície deste
singelo planeta. Qualquer outra explicação para o sentido de nossa existência
foi prontamente negado, a não ser que alguém encontre a pergunta certa cuja
resposta é 42. Aí talvez as coisas mudassem, mas até lá, caminho do meio.
A primeira tarefa seria me despojar dos pecados capitais,
entre eles o pior, a vaidade, mas deixemos esse assunto para outro texto. O
segundo passo seria descobrir o que faz de um homem uma pessoa sábia.
Empolgado, corri atrás de conselhos e textos destes ilustres e fiquei
assombrado com o que encontrei: silêncio!
Como poderia o mutismo ser a resposta para minhas angústias?
Mas está lá e os antigos já sabiam. O
silêncio é a virtude que nos evita falar ou ouvir tolices. Bom provérbio
para começar! A regra número um seria conservar as palavras bem guardadas. Palavra é flecha lançada. Jamais volta! Ano
passado, cometi uma injustiça contra uma colega, comentando levianamente que
ela teria fraudado um concurso. Já a conhecia há 6 anos e sabia de antemão que
a garota não seria capaz de cometer um ato tão absurdo. O certo é que me
arrependo amargamente de tal fato e ainda me envergonho do acontecido.
Muitas vezes se diz
melhor calando que falando em demasia. A fofoca nasceu de uma série de
acontecimentos que me levaram a julgar precipitadamente. Conversei com 3 ou 4
pessoas sobre isso e esqueci. Meses depois, a garota me procurou e falou sobre
o assunto. Um banho de água fria! Quem
fala o que quer, ouve o que não quer. Desculpei-me, mas ficarei marcado
como tolo. Pessoas não abrem a boca para elogios, mas para depreciação. Por 6
anos comentei como a achava bela, inteligente, legal. Apenas as ofensas
chegaram aos seus ouvidos.
Quando falares, cuida
para que as palavras sejam melhores que o silêncio; Quantas vezes devemos
errar para dar crédito a esses ensinamentos? Ford Prefect (O guia do Mochileiro
das Galáxias, Douglas Adams) acreditava que os seres humanos falavam sem parar
com a finalidade de evitar ouvir os próprios pensamentos. Tagarelar para
esconder o quão vazio os são? Temos dois
ouvidos e uma boca. Ouçamos mais e falemos menos.
Outro provérbio interessante fala assim: nascemos com olhos fechados e boca aberta;
vivemos tentando consertar este erro da natureza. Acredito que este é um
atributo dos sábios. Durante 2 semestres da faculdade, tivemos aula com o Dr.
Rino, padre e psiquiatra, o qual persistiu para que compreendêssemos a
importância de escutar o que os outros tem a dizer, não importando a origem do
discurso: professor, colega ou paciente. De certa forma era um tanto triste
notar uma ponta de frustração do mestre ao final de cada aula. Nossa cultura
ocidental não tolera o mutismo e se afoga nas próprias palavras! A sabedoria vem de escutar; de falar, vem do
arrependimento.
Os espartanos sustentaram uma sociedade que prezava as
poucas palavras. Sábios, entediam que elas pouco valiam. Um grama de exemplos vale mais que toneladas de conselhos. Um ato
que vale por mil palavras. Não sou partidário do mutismo total. Não teríamos
abandonado as savanas, construído ferramentas e viajado ao espaço se negássemos
este dom, mas tal habilidade é diariamente massacrada pelas ruas, rádios, TVs e
outras mídias. A palavra é prata, o
silêncio é ouro. Estamos nos perdendo por pouco!
Pega-se o touro pelos
chifres; o homem pelas palavras. O complemento deste provérbio ainda diz: e a mulher pelo elogio; Arrisco a dizer
que a vaidade nos leva facilmente a soltar a língua. Humildade é outro atributo
dos sábios. Assunto polêmico! Não sou humilde. Não dá maneira que as pessoas
acreditam ser humilde. Não diminuo minhas façanhas, não nego o que sei nem
escondo sobre falsa simplicidade minhas proezas. Está certo que nunca fiz
grande coisa (não é falsa humildade), mas planejo grandes coisas para minha
vida. Sonho alto pra não esquecer meus sonhos! Aprendi que cada pessoa tem sua
régua para medir seus atributos e ambições. O mais difícil seria entender que
minha régua não se aplica a vida dos outros.
Duro caminho para sabedoria! Bem longe mesmo de alcançar. O
mais interessante é que não vivemos para sermos apontados como sábios. Enquanto
vivos, estamos propensos a cometer todos os erros possíveis. Somos pontuados
pela dimensão dos erros! Viva o Ocidente! Temos que morrer para computar a
fatura e só assim, sermos categorizados: comum, tolo, sábio. O homem comum fala, o sábio escuta e o tolo
discute.
Tão importante quanto ouvir é criticar o que se ouve. Aí não
seríamos sábios, mas tolos mudos! Da mesma forma, devemos estar preparados para
falar a coisa certa na hora apropriada. Albert Einstein disse que o mundo não
estava ameaçado pelas pessoas más, mas por aquelas que se calam diante das
maldades. Diga a verdade e saia correndo.
Antes acreditava que a sabedoria era uma qualidade da velhice e esta, um
bônus da covardia. Antes um covarde vivo
que um bravo morto. Os conselhos de anciões, ponderados, sábios das
aldeias, não comportavam jovens, sempre tão impulsivos. Mas para ser um ancião,
deveria ter sido um grande guerreiro! Os covardes ficavam pelo caminho. Daí
então um novo atributo do sábio: bravura!
Os sábios não dizem o
que sabem, os tolos não sabem o que dizem. Mas o que realmente sabemos? A
verdade é apenas a constatação de um fato. Não acrescenta valor. Silêncio,
atenção, prudência, auto-crítica, humildade e bravura são os grandes atributos
de um sábio. Também seriam as características ideais para qualquer ser humano,
caso fôssemos afeitos a ensinar bons costumes aos nossos filhos.
Termino então assim: Sábio
é aquele que conhece os limites da própria ignorância. Quando olhamos
através das lentes de microscópios ou de telescópios, nos deparamos com
universos infinitamente minúsculos ou grandiosos, que superam nossas
capacidades de compreensão. O que realmente sabemos? Vivemos colecionando
informações apenas para constatar quão ignorantes somos. Daí, um sábio por fim
poderia chegar à decepcionante conclusão de que não passa de um tolo!
Regra número um: calado!